EDITORIAL

Editorial

A rota do lixo que é nosso

O Espiral Descartados, do semestre 2019.1, é um especial jornalístico coletivo, que nos chama atenção para dilemas sociais, como não ter o que fazer com tanto lixo; além de dados oficiais limitados, invisíveis e obscuros sobre coletas, políticas públicas; de desafios sobre o que fazer para reutilizar o que muitas vezes nem é descarte. São narrativas que discutem saídas para quem quer evitar o desperdício e ser economicamente viável, dando uma força ao meio ambiente.

Espiral de lixo e de lições. Para cobrar melhores condições de trabalho, de vidas inteiras: desde a Sebastiana Alves –, que tem dentro de baldes e baldes de lixo sua lida diária, catando restos que possam se transformar em novos objetos (e objetivos) – ao Seu Chagas – que vive na ‘Rua do Aterro’, espaço que recebe entre 800 e 1.000 viagens de caminhões de lixo por dia.

Entrar em contato com o Espiral é entender a diferença entre Aterro e Lixão; é descobrir que, em Fortaleza, o volume de 1,8 mil toneladas de lixo descartado diariamente é alerta para se cobrar mais e mais iniciativas de coleta seletiva. E saber que parte disso pode até passar despercebida por setores do poder público, mas está, na pauta jornalística, e entre as reflexões e iniciativas de pesquisadores como os professores Gemelle Santos, Suetônio Bastos, da engenheira ambiental Mariana Castelan e do empresário Daniel Carvalho. As descobertas e ações de cada um deles é fragmento da narrativa Descartados.

O Espiral Descartados, em muitos momentos, nos faz perceber que, às vezes, o que já não nos serve é o encaixe perfeito para outrem. O que renegamos pode ser salvação. Sinônimo de descoberta. Talvez por isso tenhamos que aprender melhor sobre como descartar. É uma proposta a se olhar para o percurso inteiro e intenso que faz o lixo, que, sim, é nosso. E as consequências desse trajeto e de onde ele vai parar.

Boa leitura!

Dahiana Araújo

Professora da disciplina de Laboratório de Jornalismo Multimídia 2019.1